Sequência didática: Aqui no meu quintal...

quarta-feira, 15 de maio de 2013

POEMA O SALTO DO CANGOÁ - PEDRO COUTO


O SALTO DO CANGOÁ
                                                   Pedro Couto             
Dizem, bendita ilha, que és maldita,
que o filho que em ti habita
nunca será feliz ou profeta
que o mal de ti maldiga,
mas se teu filho castigas,
ele será teu poeta.

São tantos os teus encantos,
que teu filho mesmo em prantos
de ti nunca esquecerá:
-        a tranquilidade da maré cheia,
a alvura da tua areia,
o salto do cangoá.

Foram estes encantos a nobreza
que fizera de ti, princesa
da terra dos cacauais.
É o vento que passa brincando,
o teu areial levantando,
cantando nos coqueirais.

É o cangoá no rio saltando,
que para um pouco, admirado
esta beleza que é só tua.
E no fundo do rio, diz aos peixinhos:
-        filhos, vi um tapete de arminhos
estendido em plena rua.
As garças que passam a voar,
param um pouco a ti adorar
E aos céus uma prece ateiam.
Depois dizem às pequenas:
-        filhas, de nossas asas as penas
são frutos daquela areia.

São tantos os teus encantos...

Salve a terra sem montanhas,
do cais tosco de biriba,
Burundanga, Birindiba,
Jardim de rosas que falam
Éden dos que trabalham,
Princesa, amada minha.

O teu mar lá no Tancredo
marulha dia e noite eterno segredo,
quebrando-se em ondas, uma a uma .
Por entre o coqueiral fica a cismar
que tu, bendita ilha, és outro março
fazendo mantas de espuma

São tantos os teus encantos...

Canavieiras, sou teu Jó,
pobre poeta que delira,
beija a Musa, abraça a Lira
e louco parte a gritar.
Tu não és terra, és pó,
pó de estrela moída,
sobre esta ilha caída
numa noite de luar.
Canavieiras(BA), 23 de setembro de 1937.






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