O SALTO DO CANGOÁ
Pedro Couto
Dizem,
bendita ilha, que és maldita,
que
o filho que em ti habita
nunca
será feliz ou profeta
que
o mal de ti maldiga,
mas
se teu filho castigas,
ele
será teu poeta.
São
tantos os teus encantos,
que
teu filho mesmo em prantos
de
ti nunca esquecerá:
-
a tranquilidade da maré cheia,
a
alvura da tua areia,
o
salto do cangoá.
Foram
estes encantos a nobreza
que
fizera de ti, princesa
da
terra dos cacauais.
É o
vento que passa brincando,
o
teu areial levantando,
cantando
nos coqueirais.
É o
cangoá no rio saltando,
que
para um pouco, admirado
esta
beleza que é só tua.
E
no fundo do rio, diz aos peixinhos:
-
filhos, vi um tapete de arminhos
estendido
em plena rua.
As
garças que passam a voar,
param
um pouco a ti adorar
E
aos céus uma prece ateiam.
Depois
dizem às pequenas:
-
filhas, de nossas asas as penas
são
frutos daquela areia.
São
tantos os teus encantos...
Salve
a terra sem montanhas,
do
cais tosco de biriba,
Burundanga,
Birindiba,
Jardim
de rosas que falam
Éden
dos que trabalham,
Princesa,
amada minha.
O
teu mar lá no Tancredo
marulha
dia e noite eterno segredo,
quebrando-se
em ondas, uma a uma .
Por
entre o coqueiral fica a cismar
que
tu, bendita ilha, és outro março
fazendo
mantas de espuma
São
tantos os teus encantos...
Canavieiras,
sou teu Jó,
pobre
poeta que delira,
beija
a Musa, abraça a Lira
e
louco parte a gritar.
Tu
não és terra, és pó,
pó de
estrela moída,
sobre
esta ilha caída
numa
noite de luar.
Canavieiras(BA),
23 de setembro de 1937.
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